No começo de setembro a Google anunciou que vai encerrar 10 produtos nos próximos meses, entre eles o Desktop e o Notebook. Isso já aconteceu antes e não será surpresa se acontecer novamente. É bastante natural a uma empresa, não importa o ramo, rever posições ao longo do tempo.
Mas vista de outra forma, a questão que se pode levantar é:
- De quais produtos a Google realmente depende?
Com alguma análise, e num reducionismo típico, mas não impreciso, é fácil identificar os 3 pilares da empresa, que sustentam seus negócios e devem continuar sendo as joias nos próximos anos:
1. Busca
2. AdWords
3. Android
Sem qualquer um desses, a Google deixa de ser a empresa que conhecemos. Todos os outros produtos, além dessa tríade, podem ir e vir que, talvez, deixem só saudade, mas não farão nenhuma falta para eles.
Estas são as razões:
Busca: na origem da Google está a sua identidade. Sem a ferramenta de busca, perderia suas raízes como companhia de tecnologia. Uma Microsoft sem Windows, uma Apple sem Steve Jobs, uma Ford sem carros. Qual a cara do Yahoo, por exemplo? Seus produtos surgem, desaparecem e não o descaracterizam simplesmente pela ausência de identidade própria. Seu produto de maior destaque talvez seja o Flickr, o que não é mérito deles: apenas compraram e mantêm o serviço.
A audiência da Google se dilui em várias iniciativas, mas a busca ainda é seu principal braço tecnológico. O Bing é o único concorrente que conseguiu alguma relevância, mas só nos EUA. E qualquer vantagem que possam achar no Bing só apareceu depois de muito dinheiro investido pela Microsoft, que se esforçou para inovar em alguns aspectos além da busca.
AdWords: em números arredondados, a criticidade desse produto pode ser resumida assim: em 2010 o faturamento total da Google foi US$ 29 bilhões, dos quais 28 bilhões vieram da venda de anúncios. Praticamente toda a receita da Google vem de um só produto. Para seus investidores, a Google não se apresenta como uma empresa de tecnologia cujo objetivo é melhorar o dia a dia online de seus usuários:
Quem são nossos clientes? Nossos clientes são mais de um milhão de anunciantes, de pequenos negócios que focam consumidores locais a muitas das maiores empresas globais, que usam o Google AdWords para alcançar milhões de usuários pelo mundo. (Fonte: FSM)
A plataforma de anúncios não foi uma inovação da Google, mas da Overture, uma empresa que detinha a patente do modelo e foi comprada pelo Yahoo em 2003. Essa patente motivou uma rápida disputa legal entre as duas empresas, até que selaram um acordo de licenciamento. Os US$ 28 bilhões faturados em 2010 mostram que a “contribuição” da Google para validar o modelo de venda online de anúncios não foi exatamente com tecnologia, mas com “escala”.
Entendendo isso, pode-se dizer que produtos como YouTube, Orkut ou Gmail são mais difíceis de sumir do mapa pois panfletam banners e links patrocinados do AdWords. Já os que não somam à receita de publicidade são mais vulneráveis e podem desaparecer de uma hora para outra, como o Reader, Translation bots ou o Docs (apenas exemplos de ferramentas que não exibem anúncios).
Android: é o mais novo e tem tudo a ver com estratégia a longo prazo. O mercado e a tecnologia para portáteis ainda estão na sua infância, com softwares e hardwares ainda imaturos. Imaturo, aqui, não significa ruim ou subutilizado, mas sim que boa parte dos negócios atuais nesse setor ainda perpassa pela tecnologia, que está em definição. Quando a tecnologia dos portáteis não for mais o mote principal, é porque já existe conteúdo e ferramentas que atraem usuários e, com eles, o potencial para explorar publicidade. Com tecnologia definida, conteúdo, usuários e publicidade, o mercado de portáteis alcançará sua maturidade, e é lá que o Google Android quer estar.
No caminho até a maturidade, o modelo que a Google planeja para o Android não é se justificar como plataforma de negócios apenas para venda de aplicativos (uma das fontes possíveis de receita no estágio atual), mas como plataforma de publicidade. E “publicidade” diz pouco sobre o que essa plataforma realmente será: hoje é basicamente para anúncios, mas tende a evoluir para uma plataforma de consumo, que conecta os consumidores, seus desejos, vontades, necessidades e demandas às suas realizações, recompensas e provisões em tempo real, de qualquer lugar.
Assim, busca é a identidade da Google e o que os mantém próximos de suas raízes tecnológicas. O AdWords é o produto mais crítico e do qual eles mais dependem por ser a fonte exclusiva de receitas. E o Android é uma tacada estratégica mirando o longo prazo.